Por que a Síndrome de burnout não é uma doença mental?

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Tempo de leitura: 8 minutos

Porque é classificada pela OMS como fenômeno ocupacional, resultado de estresse crônico no trabalho, sem critérios diagnósticos únicos de transtorno mental.

Por que a Síndrome de burnout não é uma doença mental?

A Síndrome de Burnout não é considerada uma doença mental porque ela se manifesta como uma reação direta ao estresse crônico no ambiente de trabalho, distinguindo-se de transtornos mentais que possuem causas e manifestações mais amplas e multifacetadas, não exclusivamente ligadas à vida profissional.

Ao longo deste artigo, você desvendará as nuances do Burnout, compreendendo por que ele não é apenas um cansaço comum, mas um esgotamento com características próprias.

Confira os insights que aguardam você:

  1. Foco é no estresse ocupacional.
  2. Critérios diagnósticos são distintos.
  3. Reversível com mudança de ambiente.
  4. Classificado como fenômeno ocupacional.
  5. Não é transtorno nos manuais clínicos.

Foco é no estresse ocupacional

O Burnout é um problema que nasce e cresce dentro do nosso ambiente de trabalho, por causa do estresse do dia a dia.

É como se a pressão do serviço apertasse tanto que a gente ficasse sem energia, sem vontade de fazer nada, um esgotamento total que tem a ver só com a labuta.

A lógica é simples, se o cansaço e a exaustão vêm:

  • Do batente;
  • Do seu chefe pegando no pé;
  • Das metas impossíveis ou;
  • Da falta de reconhecimento, então estamos falando de Burnout.

É o corpo e a mente dizendo “chega!” por causa do trabalho pesado.Mas não para por aí, viu? Tem mais diferenças importantes que a gente precisa conhecer…


Critérios diagnósticos são distintos

Pra saber se é Burnout mesmo, usa-se umas regrinhas bem diferentes das que usam pra outras tristezas ou cansaços que a gente sente na vida.

Não é qualquer dor no coração ou choro. Tem que ter uns sinais bem específicos, tipo a sensação de que você não rende mais no trabalho, um cinismo com o que faz e um cansaço que não passa nem dormindo.

Aqui vai uma listinha pra você entender melhor:

  • Exaustão emocional: a bateria da sua mente zera.
  • Despersonalização: você começa a tratar os outros como números.
  • Baixa realização pessoal: sente que seu trabalho não serve pra nada.
  • Relacionado ao trabalho: tudo isso só acontece por causa do emprego.

O Burnout não se mistura com outras condições. Ele tem suas próprias marcas, suas digitais que indicam que a causa está ligada diretamente à sua vida profissional, e não a problemas gerais da vida.


Reversível com mudança de ambiente

Uma coisa legal do Burnout é que ele melhora e até some se mudarmos o ambiente onde trabalhamos, ou o jeito que lidamos com o serviço.

É como tirar uma planta que não estava indo bem de um vaso pequeno e colocar num lugar maior e com mais sol: ela floresce de novo.

Com a gente é parecido, se o ambiente de trabalho melhora, a gente melhora também.

Situação atualCom a mudança
Estresse alto no trabalhoRedução da pressão
Cansaço extremoRecuperação da energia
Falta de motivaçãoRetorno do interesse
Problemas de saúdeMelhora do bem-estar

A ideia é que, como a causa é o trabalho, a solução está em mexer nele. Se você consegue diminuir a carga, mudar de função ou até de emprego, as chances de você se recuperar são grandes, porque a raiz do problema foi atacada.

Essa capacidade de mudar já nos leva a outro ponto crucial: a classificação do Burnout como algo ligado diretamente ao nosso trabalho.


Classificado como fenômeno ocupacional

O Burnout é visto pelos especialistas como um “fenômeno ocupacional”, ou seja, é um problema que surge por causa do nosso trabalho, e não uma doença mental como a depressão ou a ansiedade, por exemplo.

Isso quer dizer que ele está lá, nos manuais de saúde, mas numa parte que fala dos problemas ligados à vida profissional, mostrando que a origem dele é bem específica e ligada à sua carreira.

A lógica dessa classificação é deixar claro que, apesar de causar muito sofrimento e sintomas parecidos com os de doenças mentais, o Burnout tem uma causa clara: o ambiente de trabalho.

E se ele é classificado assim, o que isso significa na prática? Significa que ele não é igual a outras doenças mentais que a gente conhece, como vamos ver agora.


Não é transtorno nos manuais clínicos

Importante saber que, nos livros mais importantes de saúde mental, aqueles que os médicos usam, o Burnout não aparece como um transtorno mental por si só, como a depressão ou a ansiedade, que são doenças.

Ele é reconhecido como um problema sério, claro, mas é mais como uma reação do corpo e da mente ao estresse crônico do trabalho, e não uma doença que você desenvolve do nada.

BurnoutTranstorno mental
Ligado diretamente ao trabalhoTêm várias causas, não só o trabalho
Reversível com mudança no trabalhoRequer tratamento mais complexo
Fenômeno ocupacionalDoença psiquiátrica
Foco no esgotamento profissionalFoco em sintomas diversos do humor e mente

A lógica por trás disso é diferenciar o Burnout de outras condições. Ele é um esgotamento que tem uma causa muito específica, o trabalho, e não uma bagunça geral na cabeça que pode vir de mil lugares diferentes.


Perguntas frequentes

  1. O que, afinal, é a síndrome de burnout?
    É um estado de exaustão física e emocional causado por estresse crônico no trabalho, marcado por três eixos: cansaço extremo, cinismo/distanciamento do trabalho e sensação de ineficácia profissional.
  2. Se não é doença, por que ela aparece no CID-11?
    Porque o CID-11 tem uma seção para fenômenos ocupacionais (capítulo 24). O burnout entra ali (código QD85) como motivo de procura por serviço de saúde, não como doença em si.
  3. O DSM-5 reconhece burnout?
    Não. O DSM-5 (manual de psiquiatria) não criou um diagnóstico específico; casos graves costumam ser enquadrados como transtorno de ajustamento, depressão ou ansiedade, conforme os sintomas.
  4. Burnout é a mesma coisa que depressão?
    Não. Os sintomas se sobrepõem, mas a depressão afeta todas as áreas da vida, enquanto o burnout está vinculado exclusivamente ao contexto de trabalho.
  5. Quais são os sintomas-chave?
    Exaustão persistente, atitude cínica ou negativa em relação ao trabalho e sensação de baixa realização/eficácia. Dor de cabeça, insônia e irritabilidade costumam fazer parte do pacote.
  6. Burnout pode virar depressão ou ansiedade?
    Pode, se o estresse persistir e não houver intervenção. Não tratar o burnout aumenta o risco de desenvolver transtornos mentais formais.
  7. Existe exame de sangue que detecte burnout?
    Infelizmente, não. O diagnóstico é clínico, baseado em entrevista, questionários validados (como o Maslach Burnout Inventory) e avaliação do contexto laboral.
  8. Posso pegar atestado médico por burnout?
    Sim. No Brasil, o médico pode usar o código QD85 do CID-11 para afastamento. Em alguns países europeus, o burnout já é motivo reconhecido de licença ocupacional.
  9. Meu plano de saúde é obrigado a cobrir tratamento?
    Depende do contrato e da regulação nacional. Como não é doença, algumas operadoras exigem que o quadro seja registrado como depressão ou ansiedade para cobrir psicoterapia ou medicação.
  10. Quais profissionais tratam burnout?
    Psicólogos e psiquiatras para suporte emocional e, se necessário, medicação; médicos do trabalho, RH e gestores para ajustar condições laborais; às vezes fisioterapeutas e nutricionistas entram no time.
  11. Existe remédio próprio para burnout?
    Não há fármaco específico. Antidepressivos ou ansiolíticos podem aliviar sintomas, mas o tratamento-raiz envolve ajustes no trabalho, psicoterapia e mudança de estilo de vida.
  12. Burnout pode acontecer fora do emprego, tipo em cuidadores familiares?
    Tecnicamente, o termo oficial da OMS só vale para contexto ocupacional. Fora do trabalho fala-se de “exaustão por cuidado” ou estresse crônico, não de burnout.
  13. Minha empresa pode ser responsabilizada?
    Sim. Se ficar comprovado que condições de trabalho causaram adoecimento, a empresa pode responder por dano moral, pagar estabilidade provisória ou adaptar o posto.
  14. O que as organizações devem fazer para prevenir?
    Limitar jornada excessiva, promover pausas, incentivar apoio social, treinar lideranças, reconhecer resultados e criar cultura de equilíbrio vida-trabalho.
  15. O burnout um dia pode virar diagnóstico de doença mental?
    Talvez. Pesquisas continuam e alguns especialistas defendem a inclusão. Por ora, falta consenso científico sobre critérios claros e diferenciação de depressão.

Referências

  • AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.
  • BIANCHI, Renzo; SCHONFELD, Irvin Sam; LAURENT, Eric. Burnout-depression overlap: a review. Clinical Psychology Review, Amsterdam, v. 36, p. 28-41, mar. 2015. DOI: 10.1016/j.cpr.2015.01.004.
  • FREUDENBERGER, Herbert J. Staff burn-out. Journal of Social Issues, Hoboken, v. 30, n. 1, p. 159-165, 1974. DOI: 10.1111/j.1540-4560.1974.tb00706.x.
  • MASLACH, Christina; JACKSON, Susan E. The measurement of experienced burnout. Journal of Occupational Behaviour, Hoboken, v. 2, n. 2, p. 99-113, 1981. DOI: 10.1002/job.4030020205.
  • MASLACH, Christina; LEITER, Michael P.; SCHAUFELI, Wilmar B. Maslach Burnout Inventory Manual. 4. ed. Menlo Park: Mind Garden, 2018.
  • WORLD HEALTH ORGANIZATION. Burn-out an “occupational phenomenon”: International Classification of Diseases. Genebra: World Health Organization, 2019. Disponível em: https://www.who.int/news/item/28-05-2019-burn-out-an-occupational-phenomenon-international-classification-of-diseases. Acesso em: 4 ago. 2025.
  • WORLD HEALTH ORGANIZATION. International Classification of Diseases 11th Revision (ICD-11). Genebra: World Health Organization, 2019. Disponível em: https://icd.who.int/en. Acesso em: 4 ago. 2025.

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