Quando o burnout vira bode expiatório: o mau uso da CID QD85 no RH

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Tempo de leitura: 6 minutos

Burnout não é fuga, é sintoma. CID QD85 mal usada oculta causas estruturais, desviando do real problema no RH e perpetuando ciclos adoecedores.

Homem solitário em sala de reunião escura, diante de janela com cidade encoberta pela neblina.

O burnout vira bode expiatório no RH quando a Classificação Internacional de Doenças (CID) QD85 é utilizada de forma simplista para atribuir a responsabilidade integralmente ao indivíduo, isentando a organização de investigar e corrigir suas próprias falhas estruturais e falhas de gestão.

Essa prática transforma um diagnóstico complexo em um mero “bode expiatório”, obscurecendo falhas estruturais das empresas, e o RH sente-se tentado a utilizar o diagnóstico de burnout como uma solução rápida.

Ao ler este artigo até o fim:

  1. Compreenda o burnout além do cansaço.
  2. Descubra as causas do mau uso da CID.
  3. Saiba as consequências devastadoras.
  4. Conheça caminhos para o uso ético.
  5. Entenda o papel do RH na solução.
  6. Motive para um ambiente saudável.

1. Entendendo o burnout

O burnout é um fenômeno ocupacional resultante de estresse crônico não gerido no local de trabalho. A CID-11 o descreve através de três pilares fundamentais:

  • Exaustão emocional: Uma sensação profunda de esgotamento dos recursos emocionais do indivíduo.
  • Despersonalização/cinismo: O desenvolvimento de uma atitude distante, cínica e insensível em relação ao trabalho e às pessoas.
  • Redução da realização profissional: Uma percepção crescente de incompetência, falta de sucesso e ineficácia nas atividades laborais.

2. Causas e gatilhos do mau uso da CID QD85

Em meio a pressões por produtividade e contenção de custos, o RH geralmente sente-se tentado a utilizar o diagnóstico de burnout como uma solução rápida, atribuindo a responsabilidade integralmente ao indivíduo.

Essa abordagem isenta a organização de investigar e corrigir suas próprias falhas estruturais.

Fatores que levam ao mau uso no RH:

  • Pressão por resultados e metas agressivas: Cria um ambiente de sobrecarga, onde o burnout é visto como falha individual;
  • Ausência de políticas estruturadas de bem-estar e saúde mental: A falta de programas robustos leva à busca por diagnósticos como paliativos;
  • Cultura de culpa e baixa segurança psicológica: Problemas são frequentemente associados à falha individual, e não a fatores sistêmicos;
  • Falta de capacitação em saúde mental para profissionais de RH: Dificuldade em discernir as causas multifacetadas do esgotamento profissional.

3. As consequências no uso do burnout como bode expiatório

A deturpação do diagnóstico de burnout acarreta impactos severos, transcendendo o indivíduo e afetando a organização em sua totalidade.

Essa prática perpetua o sofrimento e impede a implementação de soluções eficazes.

Impactos no indivíduo afetado

  • Estigmatização e culpa: Reforça o isolamento, dificultando a busca por ajuda e o processo de recuperação.
  • Agravamento do quadro clínico: A persistência dos estressores e a falta de tratamento adequado deterioram a saúde mental.
  • Perda de oportunidades profissionais: O receio de ser rotulado como “problema” impacta negativamente a trajetória de carreira.

Impactos na organização

A negligência com as causas reais do burnout gera um ciclo vicioso:

ConsequênciaDescrição
Aumento do turnoverProfissionais buscam ambientes de trabalho mais saudáveis.
Queda na produtividadeO esgotamento individual afeta o desempenho coletivo.
Deterioração do clima organizacionalDesmotivação, desconfiança e falta de engajamento se espalham.
Crise de reputação da empresaA imagem da organização no mercado de trabalho é prejudicada.

4. O uso ético e eficaz da CID QD85 e o papel do RH

A Classificação Internacional de Doenças (CID-11) QD85 deve ser vista como uma ferramenta para compreensão e tratamento, não como um álibi para a inércia organizacional.

O RH tem o papel crucial de reverter essa tendência, promovendo uma cultura de cuidado e responsabilidade.

Caminhos para um uso ético e eficaz

  • Investigação profunda das causas organizacionais: Identificar fatores sistêmicos como carga de trabalho excessiva, falta de autonomia, relações interpessoais tóxicas e ausência de reconhecimento.
  • Promoção ativa de uma cultura de saúde mental: Implementar programas de bem-estar, oferecer apoio psicológico e capacitar lideranças para identificar e lidar com o estresse.
  • Fomento ao diálogo aberto e transparente: Criar canais seguros para que os colaboradores expressem suas preocupações sem medo de retaliação.
  • Desenvolvimento de políticas de prevenção claras: Estabelecer diretrizes sobre carga de trabalho, equilíbrio entre vida pessoal e profissional e gestão eficaz de conflitos.
  • Capacitação contínua dos profissionais de RH: Atualizar conhecimentos em saúde ocupacional, gestão de pessoas e as nuances do burnout.

5. Burnout merece respeito e atenção

O reconhecimento do burnout pela CID QD85 é um avanço, mas sua simplificação e uso como bode expiatório representam um grave retrocesso.

O RH deve assumir a responsabilidade de investigar e combater as causas reais do esgotamento profissional, que residem em falhas estruturais e organizacionais.

A mensagem final é clara: a saúde mental dos colaboradores precisa ser valorizada.

Um ambiente de trabalho saudável é aquele onde o diagnóstico de burnout serve como ponto de partida para a implementação de soluções eficazes e sustentáveis, e não como desculpa para a inação corporativa.


Perguntas frequentes

  1. O que é burnout segundo a CID-11?
    Fenômeno ocupacional por estresse crônico não gerido no trabalho.
  2. Quais os três pilares do burnout na CID-11?
    Exaustão emocional, despersonalização/cinismo e redução da realização.
  3. Por que o RH usa o burnout como bode expiatório?
    Para evitar investigar falhas estruturais da empresa.
  4. Quais fatores levam ao mau uso do burnout no RH?
    Pressão por resultados, falta de políticas de bem-estar, cultura de culpa, pouca capacitação.
  5. O que é exaustão emocional no contexto do burnout?
    Esgotamento profundo dos recursos emocionais do indivíduo.
  6. Como se manifesta a despersonalização/cinismo?
    Atitude distante, cínica e insensível em relação ao trabalho.
  7. O que significa redução da realização profissional?
    Percepção de incompetência e ineficácia nas atividades laborais.
  8. Quais os impactos do burnout no indivíduo?
    Estigmatização, culpa, agravamento clínico e perda de oportunidades.
  9. Como o burnout afeta a organização?
    Aumenta turnover, reduz produtividade e deteriora o clima organizacional.
  10. Quais são as consequências do burnout para a reputação da empresa?
    A imagem da organização no mercado de trabalho é prejudicada.
  11. Qual o papel do RH no uso ético da CID QD85?
    Promover cultura de cuidado, investigar causas e implementar soluções.
  12. Como o RH deve investigar as causas do burnout?
    Identificando fatores sistêmicos como carga de trabalho e relações interpessoais.
  13. O que o RH deve fazer para promover saúde mental?
    Implementar programas de bem-estar e capacitar lideranças.
  14. Por que o diálogo aberto é importante?
    Cria canais seguros para os colaboradores expressarem preocupações.
  15. Qual a mensagem final sobre o burnout?
    Merece respeito e atenção, não o rótulo de bode expiatório.